terça-feira, 8 de outubro de 2013

A Cultura na perspectiva da Educação Popular.

A Cultura na perspectiva da Educação Popular, esse foi o tema abordado no segundo módulo do 4º Curso Estadual de Formação em Educação Popular da Recid Ceará, que aconteceu nos dias 04 a 06 de outubro no município de Tabuleiro do Norte, região do Vale do Médio Jaguaribe.

Com o objetivo de reconhecer e valorizar as nossas muitas diferentes identidades culturais, como fator para a coexistência harmoniosa das várias formas possíveis de brasilidade, já que esta identidade se transforma, se recria de acordo com a essência de cada povo, produto e produtor das variedades culturais que coexistem no nosso país continente.

A importância de estudar/abordar/dialogar a cultura na perspectiva de uma educação transformadora e libertadora, se evidencia na medida em que compreendemos que estas estão diluídas e misturadas uma na outra, coexistindo no mesmo espaço e tempo, contextuais e históricas, produzindo e sendo produzidas pelo povo em sintonia. 

Neste cenário ideológico, fomos acolhidos belissimamente pela pureza e cultura infantil do Grupo de Teatro Cena’s que nos levou ao fantástico mundo do Era uma vez... onde vivenciamos a mística de voltar a ser criança. Dançamos em roda, brincamos, nos encantamos e criamos nosso acordo para o bem viver em grupo e nos organizamos em equipes para registrar nossos momentos, animar o grupo, cuidar e ser cuidado, refletir e gerar reflexão sobre o todo que construímos.

Neste módulo, nos juntamos novamente para nos rever, nos aproximar, desvelar e revelar um pouco mais de cada um de nós no outro e também concluir missões inconclusas. Nos costuramos em retalhos diversos, assim como nós. Diferentes cores, formatos, tamanhos, brilhos e idéias várias, nos compuseram em obra artística popular. Há quem tenha se esquecido em casa (né seu Bruno!), mas se refez, se contextualizou, e se fez novamente presente na composição.

Nos buscamos e buscamos outros, nesse período entre os módulos, acumulamos saberes, conceituamos. É certo que, uns mais, outros nem tanto e alguns de jeito nenhum, mas nos fizemos grupo de novo e, nos juntando, ficamos fortes. O que um aprendeu e soube, compartilhou com o todo, e na ocasião, estando presentes, saberam as mesmas coisas, mesmo que de forma diferentes, não sabendo mais ou menos que o outro, mas sabendo diferente. Assim Freire nos ensinou. E é isso, também, que esta educação, dita Popular, veio a nos garantir.

Neste encontro, também conhecemos gente nova, uns que faltaram no primeiro módulo, outros que se achegaram a nós, e muito somou ao nosso diálogo popular. Salve Marcos Moraes, paraibano arretado, neto de Manoel Moraes, caboclo destemido do sertão, contemporâneo do cangaço de Lampião. Salve, salve, grande Marcos, que, na proposta de fomentar o diálogo a cultura, o extrapola, evidenciando/costurando os elementos necessários à uma abordagem crítica para além dos meros conceitos.

E o circulo de cultura a girar, deixando-nos tontos, embebidos de conhecimento. Povo, multidão, massa... Quem é o povo brasileiro? Quem somos? Que “mulestia” de povo é esse? Qual a nossa identidade cultural?

E, nos abreviamos assim: Somos muitos e somos um, somos múltiplos, diversos, mas somos povo! E, para nos reconhecer enquanto povo, precisamos nos reconhecer enquanto sujeitos, nos assujeitar-se, tomar a decisão, nos conscientizar e gerar conscientização. Nos pertencer e pertencer ao grupo, formar o povo. Pois, somos fruto de um processo histórico e cultural de outros povos de diferentes identidades, com histórias singulares, portanto de diferentes culturas. Como “uma panela de angu”, ou de “rulango”, para quem preferir, fomos misturados e hoje somos o resultado dessa mistura que constituiu/construiu esse todo, esse povo. Essa é nossa identidade e culturalmente somos a heterogeneidade desse todo, desses povos fundidos em um, sendo, criando e reinventando o nosso jeito de ser, fazer, se expressar, de sentir. Somos a interculturalidade dessas múltiplas culturas, e só a partir desse entendimento e aceitação (histórico e cultural) que nos entenderemos como povo brasileiro e identidade cultural brasileira.

Devidamente conscientes da nossa identidade de povo e cultura brasileira, nos dedicamos a vivencia prática de uma oficina de Teatro do Oprimido. Nos disponibilizando a jogar, guiados pelo “curinga”. Muitos de nós, tivemos esta experiência, como o primeiro contato com esta arte, mas, “como dizia Augusto Boal " O ato de transformar é transformador": não é preciso ser poeta para escrever um poema, quem escreve um poema torna-se poeta.” Por ter esse entendimento é que nos desafiamos a se apropriar das técnicas do Teatro do Oprimido para nos desenvolver como atores. Por ser uma metodologia fácil de ser ensinada e de ser aprendida, pode ser praticada em quase todos os espaços, sem exigências técnicas sofisticadas, mas com uma enorme atenção a essência do ser humano, e seu caráter transformador.

A oficina tinha, entre suas várias proposta, nos ajudar a recuperar uma linguagem artística que já possuímos, a aprendermos a viver em sociedade através do jogo teatral. Aprendemos a sentir, sentindo; a pensar, pensando; a agir, agindo; ensaiando para a realidade.

     Experimentamos, jogamos, depois de uma breve contextualização do seria o Teatro do Oprimido, algumas técnicas, dentre elas: o mosquito africano, completar a imagem em dupla e grupo, partilha de história e criação de uma imagem, floresta de sons, etc.

Os jogos, além de nos ter feito rir e refletir questões importantes, nos ajudaram fazer uma leitura de nós mesmos, de nos perceber atores e atrizes da realidade, nos mostrando que podemos protagonizar outras histórias, mudando a atual. Nos mostrou que somos capazes de gerar transformação que queremos.

Assim concluímos mais um dia, pelo menos sob a luz do sol, porque a noite, que tanto nos seqüestrou alguns artistas participantes, nos esperava para juntos celebrar nossa cultura popular. Era os 10 anos da Rede desenhada numa Quermesse Cultural enfeitada de crianças alegres, de jovens artistas, de poesia, de dança tradicional, de comidas nossas, de lazer, de contato intergeracional... E viva nossas culturas! Viva o povo em ação, protagonizando sua história. Viva o Teatro Cena’s e o Ceará em Movimento!

Amanhece o nosso terceiro dia e o povo acorda para nele desenhar o aprendizado do encontro, numa espécie de autoavaliação dos acúmulos vivenciados nos dias anteriores. Nele objetivamos concluir o assunto dialogado neste módulo e encaminhar as atividades de estudo e pesquisa para o Tempo Comunidade e ao mesmo tempo avaliar os passos dados neste encontro. Nele, ainda, anunciamos o próximo momento para encontrarmos e mais uma vez, voltar a sermos um. E isso já está marcado, com tema, dia e lugar. Será nosso terceiro módulo como o tema “A contribuição da arte e cultura na construção do Estado que Queremos!” no Espaço Cultural Frei Tito de Alencar (ESCUTA), em Fortaleza, nos dias de 29 e 30 de novembro a 01 de dezembro.

E assim, concluímos mais uma etapa do nosso 4º Curso Estadual de Formação em Educação Popular, seguros do aprendizado construído coletivamente e certo de que, diante de cada contexto específico, o homem se constrói por meio da cultura, que é constructo histórico, ao qual está inserido, manifestações culturais que o faz ser único diante do outro; o jeito de falar, o jeito de andar, as formas de fazer; cada gesto expressa uma determinada identidade, uma determinada cultura, um jeito próprio de ser, que só pode ser sentido e ter sentido se for experenciado, vivenciado cotidianamente.

terça-feira, 1 de outubro de 2013


Carta Aberta ao Governo e à Sociedade Brasileira sobre o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)



O Brasil tem realizado, nos últimos anos, avanços significativos na promoção da segurança alimentar e nutricional (SAN) e na realização do direito humano à alimentação, com a superação da situação de pobreza e miséria de milhões de famílias e o fortalecimento da agricultura familiar.

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) tem sido fundamental para a concretização destes avanços. O programa, que envolve vários ministérios, visa garantir a oferta de alimentos da agricultura familiar para grupos sociais em situação de insegurança alimentar, fortalecendo a agricultura familiar, povos e comunidades tradicionais, e garantindo o acesso a alimentos de qualidade para as pessoas mais pobres.

Graças ao seu sucesso no Brasil, comprovado por muitos estudos independentes e por muitos documentos de organizações beneficiárias, o PAA é reconhecido internacionalmente, e é referência para diversos programas similares em outros países, da América Latina e da África. Atualmente o programa adquire alimentos de mais de 185 mil agricultores familiares, beneficiando 19.681 entidades recebedoras dos alimentos, com a distribuição de 529 mil toneladas de alimentos por ano. O PAA já beneficiou, ao longo dos seus 10 anos, 2.352 municípios em todos os estados do Brasil. A Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), através da Diretoria de Política Agrícola e Informações, dirigida por Silvio Porto, tem cumprido papel determinante na efetivação do programa.

Recentemente a Polícia Federal deflagrou a operação denominada de "agrofantasma", que investiga supostas irregularidades e desvios de recursos no programa. Tal operação chamou a atenção pelo aparato policial utilizado e pela repercussão desproporcional do fato nos meios de comunicação. Tal operação resultou na detenção de 10 agricultores e do funcionário da Conab no Paraná, Valmor Bordin, bem como no indiciamento policial do Diretor de Política Agrícola e Informações da Conab, Silvio Porto.

Os movimentos sociais e organizações da sociedade civil aqui representados repudiam os procedimentos utilizados, bem como a forma distorcida e pouco clara que as informações sobre a operação foram divulgadas por grande parte dos meios de comunicação. Vale destacar que mesmo o processo correndo em sigilo, alguns meios de comunicação contavam com informações privilegiadas no dia da realização da operação policial. Os procedimentos da operação policial e sua divulgação contribuem para criminalizar as organizações da agricultura familiar e deslocam a atenção da sociedade da necessária apuração de irregularidades na execução do programa para um tratamento meramente policial de um programa fundamental para a realização do direito humano à alimentação. É importante salientar que estes mesmos canais de comunicação divulgam muito pouco ou quase nada os resultados positivos do programa em todas as regiões do Brasil.

O PAA é implementado há 10 anos, ao longo dos quais foram criados e aprimorados mecanismos de gestão e controle social do programa. Sua execução é acompanhada por centenas de conselhos municipais e estaduais de segurança alimentar e nutricional, assistência social e desenvolvimento rural. A busca pela transparência e pela responsabilidade no trato do recurso público tem sido permanente nos espaços de gestão e acompanhamento do programa, seja no seu Grupo Gestor, Comitê Consultivo, ou no Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Este aprimoramento tem se orientado pela transparência e pela busca da adequação de seus procedimentos à realidade da agricultura familiar e povos e comunidades tradicionais, segmentos da população que, embora responsáveis pela maior parte dos alimentos consumidos pela população brasileira, foram historicamente excluídos das políticas agrícolas.

Defendemos a apuração de toda e qualquer irregularidade, da mesma forma que defendemos o amplo direito à defesa das pessoas que se encontram detidas e indiciadas. Manifestamos nosso repúdio à forma como a ação policial foi realizada, efetivando detenções de

agricultores e funcionários da Conab que vinham colaborando com as investigações.

Os movimentos sociais e as organizações aqui representadas reafirmam a relevância do Programa de Aquisição de Alimentos e exigem sua continuidade e ampliação, nos marcos que vem sendo discutidos em suas instâncias de gestão e controle social. Reafirmamos a importância da Conab como órgão executor do PAA e o nosso reconhecimento e plena confiança no seu Diretor de Política Agrícola e Informações, Silvio Porto, gestor público reconhecido pela sua ética e retidão no exercício da função pública e dotado de uma história de vida pública na área do abastecimento e segurança alimentar e nutricional que lhe confere idoneidade e capacidade técnica e gerencial para a implementação e gestão do PAA. Repudiamos as tentativas de "linchamento" político dos gestores públicos da Conab e de lideranças de organizações beneficiárias.

Assinam:

AARJ – Articulação de Agroecologia do Rio de Janeiro

ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária

ACTIONAID Brasil

ANA – Articulação Nacional de Agroecologia

ANA - Amazônia

ANC - Associação de Agricultura Natural de Campinas e Região

AOPA – Associação para o Desenvolvimento da Agroecologia

APTA - Associação de Programas em Tecnologias Alternativas

ASA - Articulação Semiárido Brasileiro

AS-PTA – Agricultura Familiar e Agroecologia

ASSOCIAÇÃO AGROECOLÓGICA TIJUPÁ

CÁRITAS Brasileira

CAA – Centro de Agricultura Alternativa do Norte de MG

CENTRO ECOLÓGICO

CONAQ - Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq)

CONTAG - Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadores na Agricultura

CNS - Conselho Nacional das Populações Extrativistas

CPT – Comissão Pastoral da Terra

ECONATIVA - Cooperativa Regional de Produtores Ecologistas do Litoral Norte

do RS e Sul de SC

FASE – Federação de Órgãos para a Assistência Social e Educacional

FBSSAN - Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional

FEAB – Federação dos Estudantes de Agronomia do Brasil

FESANS-RS – Fórum Estadual de Segurança Alimentar e Nutricional Sustentável do Rio Grande do Sul

FETRAF – Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar

Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional do Paraná

FOSAN-ES – Fórum de Segurança Alimentar e Nutricional do Espírito Santo

GESAN - Grupo de Estudos em Segurança Alimentar e Nutricional

IBASE – Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas

MAB – Movimento dos Atingidos por Barragens

MCP – Movimento Camponês Popular

MMC – Movimento de Mulheres Camponesas

MPA – Movimento dos Pequenos Agricultores

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

PESACRE - Grupo de Pesquisa e Extensão em Sistemas Agroflorestais do Acre

Rede de Mulheres Negras pela Segurança Alimentar e Nutricional

REDE ECOVIDA DE AGROECOLOGIA

SASOP – Serviço de Assessoria às Organizações Populares Rurais

UNICAFES - União Nacional de Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária

VIA CAMPESINA