quarta-feira, 4 de abril de 2012

Feliz Pácoa!


VIVER, MORRER, VIVER DE NOVO!


                A vida tem dessas coisas. Parece às vezes que a gente já viveu tudo. Já doou parte de seus dias, pregou a mensagem até no deserto, caminhou mundos e fundos, entregou-se como se mais tempo não houvesse, amou os que ninguém amava.
                Você diz coisas fortes, fala verdades. Prega a igualdade. Questiona as leis vigentes. Enfrenta a religiosidade hipócrita. Visita os pobres, acarinha os desprezados pelo poder vigente. Pratica sua mensagem até a última gota.
                Arranjou adversários e inimigos. Gente que não gostou de suas palavras e gestos. Você continua a pregar, não deixa de dizer o que pensa. Espreitam-no na esquina, deixam recados por terceiros. Você começa a sentir algum medo. É preciso fazer-se acompanhar pelos amigos mais chegados, cuidar os passos, eventualmente até esconder-se.
                Você não é tão novo nem tão velho, mas sente que o dia derradeiro está chegando. Resolve reunir os amigos mais amigos, aqueles aos quais você transmitiu suas verdades mais verdadeiras e a quem abriu de fato seu coração, a quem você pediu para continuarem sua estrada. Você lhes diz que sua hora está aí, na porta, não mais no horizonte. Oferece-lhes a última comida, a última bebida, abençoa e partilha com todos e todas o que há para comer e beber, distribui suas últimas palavras, desejos e sonhos. Pede que não o esqueçam nem abandonem.
                Eles, os que não gostam de você, os que não aprovam suas idéias, os que sentem seus privilégios atingidos, o prendem na esquina, na beira de um bosque. Fazem um julgamento de fachada atrás de umas árvores, julgam-no culpado por todos os problemas do mundo. Tentam desmoralizá-lo com calúnias e mentiras. Dizem que você disse ser o salvador da pátria, o redentor de todos os pecados, o julgador de todas as injustiças. Resolvem executá-lo. Jogam seu corpo em cima de um monte de palha, à luz da rua, para que todos e todas saibam que você, renegado, rebelde, insubmisso eterno, está morto, definitivamente morto. Que ninguém vá atrás de você, ninguém o procure nunca mais, tenha a coerência e a hombridade de dizer que foi seu amigo e companheiro ou, muito menos, tenha a coragem de assumir e seguir suas idéias.
                Mas você não pode morrer definitivamente ou para sempre. Alguém precisa lembrar-se de suas pregações. Afinal, você não passou pelo mundo para ser um pobre desgraçado  morto de quem não se fala mais, que não deixou nada registrado por escrito ou de alguma outra forma. Uma meia dúzia de medrosos, aqueles de sua última janta, anda se esquivando pelas vielas e nas quebradas da noite com medo de aparecer e assumir publicamente que moraram contigo, passearam contigo pelas coxilhas, percorreram favelas, enfrentaram os hipócritas dos templos, confrontaram a teu lado os poderosos de ocasião, beberam tuas palavras, te amaram. Você precisa reaparecer, ser de novo reconhecido, alguém precisa continuar seus passos, trilhar seus caminhos.
Mas quem, quem o fará? Quem terá vergonha na cara e coragem?
                Uma mulher, sim, uma mulher terá coragem para proclamar que viu seu corpo, que você continua vivo, e que é preciso seguir em frente, reunir de novo os mais amigos dos amigos, para que cada um deles reúna seus amigos mais amigos, e aí já são dezenas, mais os mais amigos dos mais amigos deles, e aí serão centenas, daqui a pouco milhares ou milhões.
                Você está vivo, sua vida não foi em vão. Suas idéias de um mundo justo, de igualdade, de um Reino onde todos e todas são irmãos irmãs, companheiros e companheiras, de um Reino onde a liberdade terá a última palavra, o amor estará acima de tudo não foi enterrado, sepultado, não foi crucificado. A vida continua, assim como o sonho que você plantou. Sua passagem pelo mundo não foi em vão.
Feliz passagem a todas e todos. Feliz Páscoa!
Selvino Heck
Assessor Especial da Secretaria Geral da Presidência da República
Em quatro de abril de dois mil e doze

segunda-feira, 2 de abril de 2012

PROJETO SERTÃO VIVO REALIZA A 7ª JORNADA DE ARTES NA ROÇA



Nós, da Comunidade do Sítio Aroeiras, no município de Orós / CE, vivemos os dias 22 a 25 de março em clima de arte e festa, durante a realização da 7ª Jornada de Artes na Roça.
Desta vez, mesmo tendo optado por uma maneira mais interna, visando envolver o máximo as pessoas da comunidade, estiveram presentes mais de 70 pessoas das localidades vizinhas, além daquelas pessoas que participaram e nos apoiaram, enviando mensagens, compartilhando apoios em alimentos, dinheiro e dando suporte em Fortaleza.
Foram mais de oito modalidades de atividades artísticas em torno do tema-lema:

“Na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.

No primeiro dia, 22 de março, em clima de lua nova, antes da 07h00min da manhã, um grupo de meninos e meninas de Guassussê, trazido por Pedro, nosso garoto mascote e, algumas mulheres dos Sítios - Sobrado e S. Romão, chegam querendo participar das oficinas de desenhos e pinturas e da criação de hortas.
Enquanto esperam que tomemos o café, assistem o DVD de Jornadas passadas. Alguns trazem um pouco de arroz, macarrão, leite... e dizem que desejam permanecer o dia todo.
No terreiro dos ancestrais, numa roda de ciranda, brincamos e dançamos, repetindo o lema: “na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.
Em seguida, os grupos acompanharam seus monitores – para a horta, com Ciçô Inventor, vindo da cidade de Altaneira, no Cariri Cearense, um apaixonado pelas pequenas invenções que fazem diferença nos rumos da produção orgânica de alimento. Para desenhos e pinturas, precisamos dividir em dois grupos. O maior de meninos e meninas segue o artista plástico e vídeo-educador, nosso velho parceiro, Ivo Sousa, que vai espalhando, com sua turma, pelo chão e paredes, desenhos inspirados nos encantos de cada participante. O outro grupo, formado por algumas mulheres, acompanha Fabiana, a jovem monitora da comunidade local, que passam com segurança e ousadia, seus conhecimentos na pintura em tecido.
E na cozinha, Dos Anjos, Nena, Idacir e Denir, nossas artistas da culinária sertaneja, conversam animadas, criam, definem tarefas para Ézio, Moisés, Júnior e outros homens que ousamos chegar por perto. À tarde, chega o arte-educador Gilson Lucena, articulador da RECID (Rede de Educação Cidadã), na região, trazendo o apoio da entidade para nossa Jornada. Naquele primeiro dia, tratamos de sonhos e sementes que geram vida.

No dia 23, sexta feira, trouxemos as memórias que temperam a vida. Para o almoço, chega mais um grupo de artistas – Márcia Carneiro, terapeuta e focalizadora de Danças Circulares, com sua mãe, Niva, vindas de Curitiba, Paraná; Paulo Nogueira, de Fortaleza, arte-educador, para acompanhar a Oficina de Teatro e  Pedro, nosso amigo motorista, que também participa das atividades da jornada.
A partir das duas da tarde, após uma bom relaxamento,orientado por Nena, nossa cuidadora, até a noitinha,  crianças, jovens e adultos, ocupam os espaços dos terreiros, nas sombras das Tamarineiras e  Cajaraneiras, um tipo de imbu-cajá, cujos frutos maduros, vão caindo pelo chão, numa bela e  saborosa percussão.

O sábado foi o dia das boas surpresas que alimentam a vida. A mais expressiva delas, veio da  cidade de Cariús, com o grupo de três mulheres e um homem. Uma delas, dona Francisca, 72 anos, louceira e artesã, com suas criações – panelas, pratos,jarros de barro, bonecas, toalhas, tudo saído de suas mãos, para admiração e uso de todos e todas, em plena sintonia com nosso tema.
Na parte da tarde o terreiro e os corações de todos vão se enchendo de  artes – exposição de canteiros ecológicos,feitos  com garrafas pet, pelo grupo com o Ciçô; saudação pela Capoeira,coordenada pelo nosso parceiro Francisco “Machado de Prata”; apresentação do grupo de  bonecos, monitorado por Mônica, da comunidade, com o tema “A cozinha da vovó”.
A expressiva e interativa  performance da  oficina de Teatro, com jovens de  Guassussê, já bem familiarizados com as ações do Projeto, monitorados por Paulo Nogueira, foi mesmo uma verdadeira mostra de potencialidade e possibilidade artística. O encerramento da mostra foi com a oficina de Danças Circulares, facilitada por Márcia Carneiro, que foi se abrindo numa grande  ciranda onde todos e todas, até os nossos três cachorrinhos entraram felizes da vida!
 Nas noites, o ritual de sempre, a celebração da tradicional novena a S. José, iniciada em março de 1952, pelo casal mãe Suzana e pai Zezinho Paraibano e que neste 2012, completa 60 anos,sem interrupção. O momento da novena é também uma forte vivencia de arte, com animadores e tocadores, compartilhando benditos, depoimentos e apreciações das realizações dos dias, orações tradicionais e  bênçãos, numa verdadeira sintonia da espiritualidade popular tradicional com as vivências históricas da comunidade atual. Antes de dormir, aquele chá de capim santo, adoçado com um papo descontraído.

A 7ª Jornada de Artes na Roça, encerrou-se no domingo, dia  25 de março, com o café da manhã, feito pelos homens presentes – cuscuz de milho, moído na hora, cozido na vasilha de barro, frutas, leite mugido, suco verde,a Caminhada Ecológica, pelo velho riacho do Saco da Onça, um afluente do Rio Salgado, saindo  pelas 06h30min, quando contemplamos as velhas  e sagradas Oiticicas, Inharés, Sabiás, Veludos e as belas Avencas e Jericós. Da caminhada trouxemos os maxixes para o almoço e um ramo de flores de Mufumbo, para o altar de S. José, em nome dos amados e amadas, que tantas vezes fizeram este gesto nos tempos passados.
A festa final, em torno da mesa, debaixo das árvores, com o brinde de caipirinha, sucos naturais e vinho, numa bela  roda da família de sangue,arte e mística. Ali todos nós compartilhamos nossas primeiras sensações do que vivemos – “ fortalecimentos das amizades, beleza da partilha, o encanto da  mãe natureza, boas surpresas de adolescentes e jovens que já mostram seus talentos e capacidade de militância artística.”
Em todos (as), a certeza de que esta Jornada foi distinta, porque envolveu mais a comunidade local com a turma que veio de longe e um inquieto desafio, sobre em que precisamos  inovar e avançar, para um novo ciclo, após o simbólico sétimo ano de Jornadas de Artes na Roça.
Após o almoço, os abraços emocionados e agradecidos e a partida dos grupos que seguiram para Fortaleza e Iguatu.
A noite veio a tão esperada chuva, com relâmpagos e trovões, sobre nossa horta e nossa semeadura de sonhos e talentos no velho e encantador sertão vivo.

Zé Vicente – poeta cantor

Sonhos que tecem a Rede: Muitas vozes e mãos construindo a comunicação que queremos



A Rede de Educação Cidadã – (Recid), na sua missão de articular os diversos atores sociais, entidades e movimentos populares do Brasil que assumem solidariamente a realização de um processo sistemático de sensibilização, mobilização e educação popular da população brasileira, em especial dos grupos vulneráveis econômica e socialmente, promove o diálogo e a participação ativa na superação da miséria, afirmando um Projeto Popular, democrático e soberano de Nação.
A Recid Ceará, reafirmando o seu Projeto Popular de transformação e inserção social, realiza o seu 3º Curso de Formação em Educação Popular. Com o tema “Os movimentos sociais e a comunicação, o curso tem o objetivo de consolidar a comunicação como um processo sócio-potico coletivo de construção do conhecimento, de humanização, de diálogo, de relações horizontalizadas e de expressão da diversidade, à luz do seu Projeto Político Pedagógico, com formação prática e ênfase na formação potica rumo à construção de práticas contra hegenicas e ao fortalecimento do poder popular. Acontece de forma modular e itinerante no período de 30 de Março a 26 de Agosto.
Realizamos em parceria com a 16ª CREDE, SINTSEF, 18ª CRES e a Recid Paraíba, o primeiro módulo, onde dialogamos sobre a comunicação que temos e a que queremos e oficinas de Web-Rádio.

Destacamos a importante participação da juventude, que protagonizaram todo o processo, participando e interagindo com o processo da educação popular, e a parceria construída com a 16ª CREDE que disponibilizou a utilização do seu laboratório de informática e acessoria técnica, que garantiram o sucesso da formação.
 
Estamos certos, que mais um importante passo foi dado rumo à transformação política e social que queremos e que só será possível em construção coletiva entre todos os atores que lutam por esta mudança que proporcionará soberania.
Temos na Educação Popular Crítico-Freireana o diálogo como principal veículo de comunicação. Esta é a comunicação que queremos a que informa, mas que também forma, como nos diz o nosso querido Professor Paulo Freire: “Comunicação é co-participação dos sujeitos no ato de pensar. Implica numa reciprocidade que não pode ser rompida. O que caracteriza a comunicação enquanto este comunicar comunicando-se é que ela é DIÁLOGO, assim como o diálogo é COMUNICATIVO”.
GT de Comunicação da Recid Ceará