Nós, da Comunidade do Sítio Aroeiras, no município de Orós / CE, vivemos os dias 22 a 25 de março em clima de arte e festa, durante a realização da 7ª Jornada de Artes na Roça.
Desta vez, mesmo tendo optado por uma maneira mais interna, visando envolver o máximo as pessoas da comunidade, estiveram presentes mais de 70 pessoas das localidades vizinhas, além daquelas pessoas que participaram e nos apoiaram, enviando mensagens, compartilhando apoios em alimentos, dinheiro e dando suporte em Fortaleza.
Foram mais de oito modalidades de atividades artísticas em torno do tema-lema:
“Na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.
No primeiro dia, 22 de março, em clima de lua nova, antes da 07h00min da manhã, um grupo de meninos e meninas de Guassussê, trazido por Pedro, nosso garoto mascote e, algumas mulheres dos Sítios - Sobrado e S. Romão, chegam querendo participar das oficinas de desenhos e pinturas e da criação de hortas.
Enquanto esperam que tomemos o café, assistem o DVD de Jornadas passadas. Alguns trazem um pouco de arroz, macarrão, leite... e dizem que desejam permanecer o dia todo.
No terreiro dos ancestrais, numa roda de ciranda, brincamos e dançamos, repetindo o lema: “na horta e na comida, sertão vivo com mais vida!”.
Em seguida, os grupos acompanharam seus monitores – para a horta, com Ciçô Inventor, vindo da cidade de Altaneira, no Cariri Cearense, um apaixonado pelas pequenas invenções que fazem diferença nos rumos da produção orgânica de alimento. Para desenhos e pinturas, precisamos dividir em dois grupos. O maior de meninos e meninas segue o artista plástico e vídeo-educador, nosso velho parceiro, Ivo Sousa, que vai espalhando, com sua turma, pelo chão e paredes, desenhos inspirados nos encantos de cada participante. O outro grupo, formado por algumas mulheres, acompanha Fabiana, a jovem monitora da comunidade local, que passam com segurança e ousadia, seus conhecimentos na pintura em tecido.
E na cozinha, Dos Anjos, Nena, Idacir e Denir, nossas artistas da culinária sertaneja, conversam animadas, criam, definem tarefas para Ézio, Moisés, Júnior e outros homens que ousamos chegar por perto. À tarde, chega o arte-educador Gilson Lucena, articulador da RECID (Rede de Educação Cidadã), na região, trazendo o apoio da entidade para nossa Jornada. Naquele primeiro dia, tratamos de sonhos e sementes que geram vida.
No dia 23, sexta feira, trouxemos as memórias que temperam a vida. Para o almoço, chega mais um grupo de artistas – Márcia Carneiro, terapeuta e focalizadora de Danças Circulares, com sua mãe, Niva, vindas de Curitiba, Paraná; Paulo Nogueira, de Fortaleza, arte-educador, para acompanhar a Oficina de Teatro e Pedro, nosso amigo motorista, que também participa das atividades da jornada.
A partir das duas da tarde, após uma bom relaxamento,orientado por Nena, nossa cuidadora, até a noitinha, crianças, jovens e adultos, ocupam os espaços dos terreiros, nas sombras das Tamarineiras e Cajaraneiras, um tipo de imbu-cajá, cujos frutos maduros, vão caindo pelo chão, numa bela e saborosa percussão.
O sábado foi o dia das boas surpresas que alimentam a vida. A mais expressiva delas, veio da cidade de Cariús, com o grupo de três mulheres e um homem. Uma delas, dona Francisca, 72 anos, louceira e artesã, com suas criações – panelas, pratos,jarros de barro, bonecas, toalhas, tudo saído de suas mãos, para admiração e uso de todos e todas, em plena sintonia com nosso tema.
Na parte da tarde o terreiro e os corações de todos vão se enchendo de artes – exposição de canteiros ecológicos,feitos com garrafas pet, pelo grupo com o Ciçô; saudação pela Capoeira,coordenada pelo nosso parceiro Francisco “Machado de Prata”; apresentação do grupo de bonecos, monitorado por Mônica, da comunidade, com o tema “A cozinha da vovó”.
A expressiva e interativa performance da oficina de Teatro, com jovens de Guassussê, já bem familiarizados com as ações do Projeto, monitorados por Paulo Nogueira, foi mesmo uma verdadeira mostra de potencialidade e possibilidade artística. O encerramento da mostra foi com a oficina de Danças Circulares, facilitada por Márcia Carneiro, que foi se abrindo numa grande ciranda onde todos e todas, até os nossos três cachorrinhos entraram felizes da vida!
Nas noites, o ritual de sempre, a celebração da tradicional novena a S. José, iniciada em março de 1952, pelo casal mãe Suzana e pai Zezinho Paraibano e que neste 2012, completa 60 anos,sem interrupção. O momento da novena é também uma forte vivencia de arte, com animadores e tocadores, compartilhando benditos, depoimentos e apreciações das realizações dos dias, orações tradicionais e bênçãos, numa verdadeira sintonia da espiritualidade popular tradicional com as vivências históricas da comunidade atual. Antes de dormir, aquele chá de capim santo, adoçado com um papo descontraído.
A 7ª Jornada de Artes na Roça, encerrou-se no domingo, dia 25 de março, com o café da manhã, feito pelos homens presentes – cuscuz de milho, moído na hora, cozido na vasilha de barro, frutas, leite mugido, suco verde,a Caminhada Ecológica, pelo velho riacho do Saco da Onça, um afluente do Rio Salgado, saindo pelas 06h30min, quando contemplamos as velhas e sagradas Oiticicas, Inharés, Sabiás, Veludos e as belas Avencas e Jericós. Da caminhada trouxemos os maxixes para o almoço e um ramo de flores de Mufumbo, para o altar de S. José, em nome dos amados e amadas, que tantas vezes fizeram este gesto nos tempos passados.
A festa final, em torno da mesa, debaixo das árvores, com o brinde de caipirinha, sucos naturais e vinho, numa bela roda da família de sangue,arte e mística. Ali todos nós compartilhamos nossas primeiras sensações do que vivemos – “ fortalecimentos das amizades, beleza da partilha, o encanto da mãe natureza, boas surpresas de adolescentes e jovens que já mostram seus talentos e capacidade de militância artística.”
Em todos (as), a certeza de que esta Jornada foi distinta, porque envolveu mais a comunidade local com a turma que veio de longe e um inquieto desafio, sobre em que precisamos inovar e avançar, para um novo ciclo, após o simbólico sétimo ano de Jornadas de Artes na Roça.
Após o almoço, os abraços emocionados e agradecidos e a partida dos grupos que seguiram para Fortaleza e Iguatu.
A noite veio a tão esperada chuva, com relâmpagos e trovões, sobre nossa horta e nossa semeadura de sonhos e talentos no velho e encantador sertão vivo.
Zé Vicente – poeta cantor
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