terça-feira, 19 de novembro de 2013

Carta do I Acampamento Estadual “Frei Tito de Alencar” do Levante no Ceará


Nós, jovens do campo e da cidade, das periferias, das universidades e das escolas nos reunimos no I Acampamento Estadual do Levante Popular da Juventude – Ceará “Frei Tito de Alencar” entre os dias 15 e 17 de novembro de 2013. Contamos com a participação de 300 pessoas e tivemos debates, reflexões, conversas, muita animação, mística e alegria. Um momento importante para a história do movimento no nosso estado.
Vivemos em um mundo dividido entre os que exploram e os que são explorados. Em nosso país, o povo brasileiro é explorado por uma elite que se submete aos interesses do imperialismo, que privatiza nossas riquezas naturais e que criminaliza aqueles que lutam para a transformação da sociedade.
Nosso desafio é construir um projeto popular para o Brasil, que faça o povo brasileiro condutor do seu próprio destino. Construir um país justo, soberano, democrático e popular. Em que haja espaço para toda a pluralidade do povo brasileiro e a cultura popular, sem nenhum tipo de opressão ou exploração.
O Ceará tradicionalmente é dirigido por grandes oligarquias, que utilizam do governo para seus interesses próprios. Hoje o governador constrói obras faraônicas, que podem até parecer muito bonitas nas campanhas eleitorais, mas que não atendem, nem de perto, as necessidades do povo cearense. Nos dois últimos anos enfrentamos a maior seca do último período em que plantações e animais foram perdidos. Mas isso não acontece só porque não existe água, mas porque ela é mal distribuída: o agronegócio é beneficiado por uma política que o privilegia, enquanto o povo, particularmente os camponeses são afetados pela seca.
A educação no estado passa por uma crise. As três universidades estaduais cearenses estão em greve por falta de infraestrutura, assistência estudantil e professores efetivos. No ensino básico a situação não é diferente: duas mil escolas no campo foram fechadas recentemente e, nas cidades, as escolas vivem uma situação precária. Nossa juventude ao invés de aprender, fica confinada em prédios que mais parecem prisões. Porque sabemos que defender a educação é essencial, construímos, durante o acampamento, um ato no bairro da Serrinha contra o fechamento da escola de ensino básico Giuliana Galli, que está ocorrendo porque a prefeitura de Fortaleza se recusa a investir numa das melhores escolas da região, que se encontra dentro de um dos bairros mais populares da cidade.
A juventude é uma das parcelas da população que mais sofre. Sofre com a falta de educação, de saúde, de espaços culturais e de vivência. Sofre com cidades mal planejadas, e com a falta de transporte público. Nas periferias das cidades, a violência é cotidiana: três jovens são assassinados por dia no estado. Uma política de estado que assassina principalmente jovens pobres e negros, e que extermina boa parte dos sonhos da nossa juventude.
As mulheres jovens também são vítimas desse sistema. O Ceará carrega uma tradição cultural machista muito forte, e a violência contra a mulher é cotidiana. Para as jovens, isso significa uma extrema dominação sobre seus hábitos, horários, roupas, relações e cotidiano. As mulheres jovens tem pouca liberdade para ser quem elas quiserem.
Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros também sofrem muito com a falta de liberdade para ser quem quiser. O Brasil é o país que mais assassina LGBT’s no mundo. E o nordeste é responsável por quase metade dos assassinatos em nosso país. Uma violência inadmissível, porque todos tem o direito de amar quem quiserem.
Nós construímos o Levante Popular da Juventude porque acreditamos que tudo isso pode e deve ser muito diferente. Estamos organizados no campo e na cidade, nos bairros, nas escolas e universidades de todas as regiões do estado, construindo um projeto popular para o Ceará e o Brasil.
Queremos viver em um local em que as mulheres, mesmo as jovens, tenham autonomia para decidir quem querem ser. Que haja liberdade para se amar a quem quiser, sem nenhum tipo de opressão. Que não exista mais racismo. Que a juventude não seja assassinada, mas que tenha espaços públicos de produção e troca cultural e artística acessíveis para todos no estado, inclusive nas periferias e no sertão. Que a educação seja construída de maneira transformadora e emancipadora, com financiamento público garantido e com a ampliação da oferta de escolas do campo. Que haja políticas públicas para garantir a produção da agricultura familiar, para que seja possível viver de forma digna, convivendo com o semiárido.
Para tudo isso nosso caminho é construir reformas estruturais em nosso país. Uma Reforma Agrária popular, para transformar radicalmente a lógica de produção agrária no Brasil. Reforma Urbana, para que todos tenham direito à cidade, com acesso à moradia e um sistema de transporte que integre a cidade e o povo. Lutamos pela democratização dos meios de comunicação, porque o povo tem que ter voz. Por memória, verdade e justiça, para resgatar a história dos que tombaram na luta por um país mais justo e impedir que crimes bárbaros se repitam.
Outra luta central no próximo período será a luta por uma Constituinte Exclusiva e Soberana do Sistema Político. Sabemos que não será possível mudar o Brasil se não alterarmos radicalmente esse sistema político, pois hoje quem manda nas eleições não é o povo, mas as grandes empresas que financiam as campanhas eleitorais. Em 2014 estaremos comprometidos com a construção do plebiscito popular que será, ao mesmo tempo, uma grande luta e um grande processo de trabalho de base para construir uma reforma na política de nosso país.
É lutando por esse projeto que nos organizamos. Sabemos que o desafio é grande, e que precisaremos de muita gente para construir essa alternativa. Por isso nos comprometemos com o estudo da realidade, com a formação política, com o trabalho cotidiano em nossas frentes de atuação. É só com a construção coletiva que podemos transformar a realidade e, para isso, é necessário cultivarmos novos valores: a solidariedade, a lealdade ao povo, o resgate da nossa história e dos heróis do povo brasileiro.
Hoje elegemos nossa coordenação estadual e apontamos nossos desafios para o próximo período. Fazer o Levante se fortalecer, em aliança com todo o campo popular, e ter mais capacidade de intervenção na conjuntura de nosso estado e de todo o país. Temos certeza de que esse é um passo importante para a caminhada que está por vir. Seguimos firmes e comprometidos com a luta, porque só a luta muda a vida.
Juventude que ousa lutar, constrói o poder popular!
Fortaleza, 17 de novembro de 2013.

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