quinta-feira, 29 de setembro de 2011

“Tem alguma coisa errada que não está certo”.


Olhando o noticiário desta semana, conversando com as pessoas, ouvindo as conversas de outras, um assunto ganhou ampla divulgação. Logicamente que, falando da semana de 04 a 10 de Setembro, e ainda no ano que completam dez anos do atentado às torres gêmeas, este é o assunto da semana. Não é demais lembrar que a principal potência do mundo, vitimada em tal atentado, vive uma contundente crise. Econômica, financeira, moral, credibilidade e de sentido. Perdi a conta das vezes que (re) vi as trágicas imagens. E eu não sou um exemplo de telespectador. Chega a ser, se é que existe, uma horrorosa beleza. Ou uma beleza horrorosa. Horrorosa, é, com certeza. As cenas são chocantes e comoventes e o ato, a meu ver, indefensável sob qualquer aspecto. Depois de auschwitz, de Hiroshima e Nagasaki, entrará também para a história da humanidade como exemplo do que a maldade humana é capaz. Como diz Viktor Frankl. Temos que ter a coragem profética de Lucas, educador Popular do Piauí e com ele trazer à memória não só quem morre ou quem mata. Ainda há espaço para quem doa a própria vida em defesa das liberdades e de outras vidas. Assim diz Lucas: “Salve Allende, que em 11 de setembro de 1973, entregou sua vida em defesa da liberdade e da legitimidade do poder do povo”. Quem ouviu esta semana algo sobre Salvador Allende?

            O dever de quem olha, escuta, conversa e sente, é refletir e refletindo sobre tudo isto, me vêm outras reflexões, os conflitos e as possíveis conclusões. O que faço, faço a partir de meus princípios cristãos e estes têm como valor maior a vida. Foi pensando na vida que cheguei a absolutização da cultura da morte. O principal feito dos Estados Unidos da América, dito e repetido, cantado e declamado, foram duas mortes. Os maiores feitos do império Americano nos últimos dez anos, foram às mortes de Sadan Rousein e Bin Laden. Quem reflete também faz e se faz perguntas. A pergunta que me faço e nos faço é: será que isto é para tentar ocultar os milhares de mortos, sejam de soldados americanos, seja de inocentes, que a mídia insiste em chamá-los de civis, simplesmente, nas guerras justificadas pelo atentado às torres gêmeas? Algo me faz pensar que não é só isto. É, também, a cultura da morte e a cultura da dominação. A arrogância de quem pensa ter os destinos da humanidade nas mãos. E esta posse lhe dar o direito de fazer qualquer coisa, inclusive matar inocentes. Isto me levou ao furioso Herodes, que mandou matar as crianças inocentes, simplesmente por ter sido contrariado, (Mt 2,16). De certa forma, sem exageros, é esse o tratamento a quem discorda das principais instituições da sociedade. Inclusive a igreja e algumas instituições populares. O “prêmio” por ter opinião própria, por ousar discordar, é o desprezo e a indiferença. Formas também cruéis de matar.  
            Saio buscando nos artigos, nas reflexões e em todo canto, sintonia para minhas inquietações, luzes, quem sabe, mas pouco encontro. No meio de muitas repetições, poucos têm a ousadia profética do Padre José Combin, lembrado por Jon Sobrino em artigo na ADITAL, Assim escreve ele sobre o que disse o Padre Comblin: “Não nos enganemos. O mundo se divide entre opressores e oprimidos. Os primeiros são minorias. Os segundos, imensas maiorias”. (ADITAL, 17/08/11). Outros preferem ainda narrar suas próprias amenidades diárias como se elas fossem exemplos vivos e referência para toda a humanidade. É terrorismo fazer da realidade virtual, vivida em gabinetes e sacristias, a realidade concreta e tantas vezes injusta para as maiorias oprimidas. Vivemos uma realidade cheia de contradições e incoerências, onde é cada vez mais improvável encontrar uma liderança, partidária ou eclesiástica, sobretudo, capaz de se arriscar pela causa que dizem defender. Gastam suas energias e suas “belezas”, para se garantirem nos cargos ou para assumir outro acima do atual. Ser rebaixado de posto, nem pensar! Parece ser a maior derrota da revolução. Nem que tenha que negociar seu projeto e sua antiga causa. Vivem numa zona de conforto que os tornam meras nulidades ideológicas. Lideranças de si mesmas. Retomando o evangelista Mateus, não entram no Reino e trancam a entrada para os que desejariam nele entrar, (Mt 23,13).
            É preciso ir além das constatações. É preciso ir além das narrativas e das superfícies, quase vernizes que não têm consistência e não convencem a quase ninguém. É preciso procurar mais que fatos. Procurar as razões que geraram estes fatos. Quem sabe assim, chegaremos às conseqüências destes fatos e nos convençamos de que eles são reais. Vivo, por exemplo, numa cidade que convive com um extermínio de jovens, mas que o debate que mais aparece é o de legalização da maconha. Da redução da maioridade penal. Que a conferência de juventude é feita para combater a ação da juventude. Os que ousam ser jovens são monitorados como se fossem explodir o lindo e romântico jardim botânico. A maioria se absteve de votar na plenária com medo de seus algozes. Na minha cidade, Curitiba, o presidente da câmara de vereadores, ganha concorrências de R$ 30 milhões, (trinta milhões de Reais) com uma empresa de propaganda de sua esposa, sem que, aparentemente, nenhum vereador soubesse. Pode? Penso inclusive em fazer uma campanha de marketing com algumas mensagens. “Filhos de fumantes se tornam anjos mais rapidamente”. Ou, “Drogados não envelhecem e traficantes não se aposentam”. Já que morrem ainda jovem. Depois de conhecer Frei Tito de Alencar, temos referenciais mais que suficientes para sabermos o que significa a vida. Não basta está vivo. É necessário merecer está vivo. Não me basta mais saber que meu partido ou minha igreja, minha religião ou meu sindicado, estão vivos. A pergunta é: eles merecem está vivos? O que é está vivo nestes casos? É escrever coisas que nunca sairão do papel ou efetivamente praticar aquilo que se escreve? Ou nem escrevê-las, mas praticá-las. Na verdade, as lideranças estão muito ocupadas em suas zonas de conforto, preocupadas apenas em se garantirem em seus cargos, para correr riscos “desnecessários” com compromissos assim. É melhor e mais cômodo inventar ideologias e devaneios e tratá-las como se fossem princípios fundamentais. Até quando isto funcionará? 

            Tem alguma coisa errada nesta história que não está certo. É preciso começar a perguntar: o quê? Por quê? Tenho visto esta geração tratar o patrimônio que recebeu da geração que nos criou, que nos formou, com displicência, às vezes com desleixo. As instituições construídas há vinte, trinta anos ou mais caindo em pleno descrédito, quando não se tornando inúteis e reproduzindo práticas opressoras e de crueldades que trariam grandes sofrimentos aos seus fundadores. As principais ações de libertação, as principais atitudes de grandeza e de fraternidade, sobretudo de gratuidade, acontecem hoje fora das estruturas institucionais. Sinto-me muito à vontade para citar aqui o caso de Jorge, pequeno empresário, dono de um pequeno restaurante no bairro do Boqueirão em Curitiba. Além de uma jornada de trabalho dez horas, as vezes mais, Jorge mantêm uma militância ativa. Participa do Conselho de saúde local; do conselho escolar da escola dos filhos; do Movimento de Moradia e do Grupo Base e Luta do Partido dos Trabalhadores – PT - da zonal do Boqueirão. Ajuda num grupo de adolescentes na escola e me contou uma história exemplar. “Eu sou talvez o único comerciante das redondezas que nunca foi assaltado”. Disse. A única bicicleta cargueira que usa no restaurante foi roubada um dia desses. No dia seguinte mandaram devolver e mandaram um pedido de desculpas e um recado. Diga para o seu Jorge que já foi repreendido quem fez isto. Seu Jorge é um homem bom, é ele quem cuida de nossos filhos na escola. Ensina música, esporte e a ser do bem. É um testemunho vivo de pertencimento e de comprometimento com a comunidade e com a vida. Não é matando que ensina a cuidar da vida.

Curitiba, 11 de Setembro de 2011.
João Santiago. Teólogo, Poeta e Militante.
É Educador Popular das CEBs no Paraná.    
Mestrando em Teologia pela PUC-PR.            

A Rede de Educação Cidadã do Ceará na consolidação do Controle Social



“Por um SUS verdadeiramente Popular e participativo”
(Gilson Lucena – Educador Recid Ceará)

Com o Tema: Consolidando o Controle Social “Todos usam o SUS! SUS na Seguridade Social, Política Pública, Patrimônio do Povo Brasileiro", aconteceu no período de 20 a 23 de setembro de 2011, em Fortaleza, a 6ª Conferência Estadual do Estado do Ceará, que contou com a participação de 1.496 delegados de todos os municípios do Ceará, os grandes protagonistas da 6ª CES, comprometidos em discutir e reorganizar todas as 180 propostas eleitas e consolidadas nas etapas municipais.
A realização das conferências são oportunidades ímpares para garantir que o sistema funcione de forma eficiente, conforme preceitua e assegura a Constituição Federal de 1988. É o momento de avaliar a saúde e propor mudanças que acontecem nos três espaços de governo. Das etapas regionais e municipais são extraídos os anseios dos locais, o concreto das deficiências o Sistema; nas estaduais, a uma reorganização e consolidação das propostas municipais; e a Nacional, objetiva discutir a política nacional de saúde, segundo os princípios da integralidade, da universalidade e da equidade.
 
“SUS é para todos e deve atender com dignidade e ética a quem quer que dele necessite”. Andréia Porto - Promotora
O primeiro dia (20/09) de Conferência se deu da forma mais popular possível, o que dá cara as ações e manifestos deste estado, destaque e pioneiro em organização nas mudanças políticas da saúde. Foi realizada uma caminhada em defesa da não privatização do SUS reunindo centenas de participantes e populares no Centro de Fortaleza, saindo da Praça da Bandeira e concentrando-se na Praça do Ferreira, principal palco das manifestações populares.
Nos dias seguintes aconteceram as palestras e os grupos de trabalho que tinham como objetivo rever, analisar e adequar todas as propostas encaminhadas das conferências municipais, para que pudessem atender e englobar todas as necessidades do Estado. As discussões nos grupos de trabalhos foram ricas no que toca a Política do SUS.
Importante momento foi entrega da Comenda Chico Passeata de Mobilização Social à personalidades com trabalho de destaque no processo de mobilização social, interferindo nos determinantes sociais, na melhoria da saúde e na qualidade de vida da população cearense. Doze foram os agraciados com a Comenda, instituída pela Sesa numa homenagem ao médico e poeta Chico Passeata, entre esses, o Educador Popular Elias José da Silva - ANEPS Ceará.
“Chico Passeata ficou assim conhecido durante a militância estudantil contra o regime militar de 64. Nesse período, início dos anos 70, sofreu detenções irregulares e a condenação pela Justiça Militar, cumprida na ilha de Itamaracá. A prisão e a tortura, porém, não foram capazes de o afastar dos seus ideais. Formado médico em 1976, aliou-se às grandes causas sociais, ao mesmo tempo em que praticava a medicina na Atenção Primária de Saúde.

O exercício da profissão, aliada à militância política, fizeram de Chico Passeata personagem distinguido da construção do Sistema Único de Saúde. Teve atuação nas entidades da classe médica cearense (Associação Médica Cearense, Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará, Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará), e nos fóruns, que levaram à edificação do SUS, a exemplo das Conferências Nacionais de Saúde, e nos Conselhos de Saúde, incluindo o nacional (CNS), do qual foi membro titular, representando a categoria médica”.

Algo extraordinário e louvável é que a Educação Popular foi pautada em todas as ações de educação permanente em saúde. Isso se deve a participação d educadores populares que militam em articulações nacionais como delegados, a exemplo da Rede de Educação Cidadã (Recid) e a Articulação Nacional de Educação Popular em Saúde (ANEPS) que possuem atuações no setor popular da saúde.
Outro momento importante foi a plenária final realizada na sexta dia 23, onde aconteceu consolidação final do relatório com as propostas do Estado e a escolha dos delegados a representarem o Estado do Ceará na 14ª Conferência Nacional de Saúde em Brasília.

Parafraseando, a Presidenta Dilma, “É importante que o destino de um país não se resume a ação do Governo. Ele é o resultado do trabalho e da ação transformadora de todos os brasileiros e brasileiras”. Essa foi à intencionalidade de todos e todas que participaram deste momento de ação-reflexão-ação que constituiu a 6ª CES.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Homenagem a um imortal: Paulo Freire, 90 anos



“Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante”
(Paulo Freire)

Reconhecido internacionalmente, Paulo Freire, o mais famoso educador brasileiro, criou em 1960 o método de alfabetização para adultos. Tinha a pretensão de alfabetizar 5 milhões de adultos mas, veio a ditadura militar e ele foi exilado do Brasil. Morreu de enfarte aos 75 anos.

 O grande homem que levou o nome do Brasil para o mundo no campo da Educação Popular; nasceu em Pernambuco, em 19 de setembro 1921 na cidade do Recife. Foi alfabetizado pela mãe, que o ensina a escrever com pequenos galhos de árvore no quintal da casa da família. Com 10 anos de idade, a família  mudou para a cidade de Jaboatão. Na adolescência começou a desenvolver um grande interesse pela língua portuguesa. Com 22 anos de idade, Paulo Freire começa a estudar Direito na Faculdade de Direito do Recife. Enquanto cursava a faculdade de direito, casou-se com a professora primária Elza Maia Costa Oliveira. Com a esposa, tem teve cinco filhos e começou a lecionar no Colégio Oswaldo Cruz em Recife.
No ano de 1947 foi contratado para dirigir o departamento de educação e cultura do Sesi, onde entra em contato com a alfabetização de adultos. Em 1958 participa de um congresso educacional na cidade do Rio de Janeiro. Neste congresso, apresenta um trabalho importante sobre educação e princípios de alfabetização. De acordo com suas idéias, a alfabetização de adultos deve estar diretamente relacionada ao cotidiano do trabalhador. Desta forma, o adulto deve conhecer sua realidade para poder inserir-se de forma crítica e atuante na vida social e política. 
No começo de 1964, foi convidado pelo presidente João Goulart para coordenar o Programa Nacional de Alfabetização. Logo após o golpe militar, o método de alfabetização de Paulo Freire foi considerado uma ameaça à ordem, pelos militares.Viveu no exílio no Chile e na Suíça, onde continuou produzindo conhecimento na área de educação. Sua principal obra, Pedagogia do Oprimido, foi lançada em 1969. Nela, Paulo Freire detalha seu método de alfabetização de adultos. Retornou ao Brasil no ano de 1979, após a Lei da Anistia. 
Durante a prefeitura de Luiza Erundina, em São Paulo, exerceu o cargo de secretário municipal da Educação. Depois deste importante cargo, onde realizou um belo trabalho, começou a assessorar projetos culturais na América Latina e África. Morreu na cidade de São Paulo, de infarto, em 2/5/1997.
A Rede de Educação Cidadã, não só do Estado do Ceará , mas de todo o Brasil, pauta suas ações na metodologia crítico-freiriana, com atividades formativas realizadas por meio da vivência teórico-metodológica (em círculos de Culturas que permitem a leitura do mundo, o aprofundamento teórico e a elaboração de estratégias de ação: a prática reflexiva) têm possibilitado a re-criação permanente do legado de Paulo Freire em espaços como oficinas, encontro intermunicipais, cursos processuais e contínuos de educação popular,  grupos de estudos e de trabalho, intercâmbios, como também a participação em seminários, debates e campanhas. 


   “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho.”

Não poderíamos deixar de homenagear este ícone maior da nossa educação, que muito lutou para uma sociedade mais humana, viva, sem deminações, como também de compartilhar com todos e todas (educadores populares, sociasi, movimentos, militantes, ONG’s) que sonham e lutam pelo mesmo ideal de sociedade cearense, nordestina, brasileira, humana!

 “Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão”

Alguns ensinamentos de Paulo Freire:
“Não há saber mais ou saber menos: Há saberes diferentes.”
"A Educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela tão pouco a sociedade muda"
“Ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo.”
“Eu sou um intelectual que não tem medo de ser amoroso, eu amo as gentes e amo o mundo. E é porque amo as pessoas e amo o mundo, que eu brigo para que a justiça social se implante antes da caridade.”

Obras do educador Paulo Freire:
• A propósito de uma administração. Recife: Imprensa Universitária, 1961.
• Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo. Estudos Universitários – Revista de Cultura da Universidade do Recife. Número 4, 1963: 5-22.
• Educação como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1967.
• Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1970.
• Educação e mudança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1979.
• A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez Editora, 1982.
• A educação na cidade. São Paulo: Cortez Editora, 1991.
• Pedagogia da esperança. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1992.
• Política e educação. São Paulo: Cortez Editora, 1993.

sábado, 17 de setembro de 2011

A Nossa forma de se organizar está em prol do Projeto Popular de Nação

Luiziânia, 17 de setembro de 2011.

Iniciamos o segundo dia do encontro embalados por um mantra de saudação ao dia e seus elementos e fazendo memória aos heróis e mártires brasileiros e latino americanos, dentre eles o destacamos o mártir  cearense Frei Tito de Alencar.
Como encaminhamento do dia anterior, as regiões trouxeram á plenária a socialização dos trabalhos em grupo que diz respeito a organicidade da Rede nas regiões.
Seqüenciando os trabalhos, aprofundamos teórico e conceitualmente a organicidade e as experiências históricas com a assessoria de Euclides Mance – Solidarius, no intuito de fomentar e entender como isso se relacionam o projeto político e metodológico da Recid.
Após uma exposição analítica sobre organicidade histórica de movimentos de lutas e suas organizações, o assessor dialoga, junto com os educadores do encontro, as socializações/apresentações das sínteses dos grupos, com o aprofundamento teórico sobre o PPP e o PPB.
No período da tarde, acontecerá trabalhos por grupos mistos que terão como missão construir e consolidar as diretrizes organizativas da Recid a partir da avaliação e dos seus acúmulos (PPP, PNF, Planejamentos estaduais...).
Para findar as tarefas do segundo dia, haverá plenária para apresentação e debate em torno da consolidação das propostas com o Assessor Euclides Mance.
Na noite... como de celebração da colheita, dos acúmulos e aprendizados, teremos uma noite cultural solidária com partilha dos estados.
“Na Gramática Política, libertação popular não tem objeto direto, mas sujeito composto.” (Euclides Mance)
Recid Ceará   

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Ceará participa da 2ª Reunião Ampliada da Recid

Luiziânia, 16 de setembro de 2011.

Inicia-se hoje na chácara do CIMI,  Luiziânia -GO, a Segunda Reunião Ampliada da Recid com representantes da Comissão Nacional, Talher Nacional e 01 Educador da Recid de cada Estado brasileiro. O objetivo da reunião é construir as diretrizes organizativas da Rede, à luz da caminhada, dos processos vivenciados (PPP, PNF, Planejamento estaduais) da conjuntura e do aprofundamento em torno da organicidade e levantar propostas para o 11º Encontro Nacional.
 Pela manhã, vivenciamos um forte momento de mística onde trouxemos á tona os nós da Rede, os entraves políticos e pedagógicos que entravam os processos populares rumo ao projeto contra hegemônico de nação. Seduzidos pela assessora Eliane Martins - RS (Movimento de Mulheres Empregadas - RS) fizemos um momento de cochichos motivados pelas seguintes questões: como estamos vendo o movimento do contexto brasileiro nos últimos anos? A partir de quais referenciais fazemos este olhar (com que óculos estamos olhando?). Após compartilhar as conversas nos grupos, a Eliane Martins, faz uma leitura analítica da conjuntura brasileira a partir do referencial do Capitalismo versus Mundo do trabalho.
No final da manhã nos aglutinamos por macrorregiões para analisarmos se a leitura conjuntural dialoga com os processos vivenciados nos Estados e em que aspectos e, como a Recid pode incidir a partir da conjuntura posta.
Á tarde:
  • Partilharemos os diálogos/reflexões das regiões e indicaremos que caminhos a analise e a realidade das regiões nos apontará para  fortalecer o poder popular - desafios e perspectivas;
  • Proposta de vídeo da Equipe de Comunicação da Recid;
  • Realizaremos os processos políticos-pedagógicos dos estados, olhando para nossos planejamentos, a gestão, a comunicação, mas claro, com foco na organicidade e sua dimensão política, orientados pelas perguntas:
  1. nossa forma de organização enquanto rede contribui para a efetivação dos nossos objetivos?
  2. fortalece as lutas e o diálogo com outros movimentos?
  3. nossa forma de organização dialóga com o PPP e PPB e os fortalece?
Á noite os estados terão um momento com CAMP e Talher para esclarecerem dúvidas de gestão do novo convênio.


" De nó em nó a Recid constrói seu projeto popular"

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O PERGUNTADOR, O ESCUTADOR, O ACOLHEDOR E DIALOGANTE JESUS:

Cura de um Rapaz Possesso (Mc 9, 14-29 )
(ver também Mt 17, 14-21; Lc 9, 37-43)

“Ao chegarem perto dos discípulos, viram ao redor deles uma grande multidão e escribas que discutiam uns com os outros. A multidão toda, mal viu Jesus, comoveu-se e acorriam para saudá-lo”, (Mc 9, 14-15). Diferentemente de Mateus e Lucas que narram o mesmo fato, mas o iniciam com maior clareza dos sujeitos e do lugar, Marcos os deixa muito indefinidos.

            Marcos no texto dos versículos 14 a 29 do capítulo nove de seu evangelho, (Mc 9, 14-29), apresenta um Jesus com quatro características fortes. Um Jesus, perguntador, escutador, acolhedor e dialogante. E tudo isso, nos leva a reconhecê-lo como um pedagogo. O texto começa com duas das principais características do Jesus apresentado no Evangelho de Marcos. a) Jesus acompanhado dos discípulos e b) Jesus cercado pela multidão que dele sempre se aproximava. Logo no versículo 16, antes de ser se quer abordado por alguém, Jesus já toma a iniciativa da conversa e formula a primeira e motivadora pergunta, “Que discutis com eles?”, (v 16). Essa pergunta é fruto da capacidade observativa de um bom pedagogo. Aqui já se apresenta o que podemos chamar de a pedagogia da pergunta. Porém, Jesus não apenas pergunta, mas escuta atentamente toda a narrativa do anônimo do meio da multidão que, apesar de não responder à pergunta feita por Jesus, aceita sua provocativa interrogação. Sai do anonimato, apesar de permanecer sem nome, pois é apresentado apenas como pai, e se torna o principal narrador da história. E logo em seguida lhe traz suas queixas. “Mestre, eu te trouxe o meu filho; ele tem um espírito mudo”, (v17). E em seguida descreve com detalhes os tormentos do filho. “O espírito apodera-se dele em qualquer lugar, atira-o no chão, e o rapaz espuma, range os dentes e fica enrijecido”, (v 18a). Em seguida, diante da escuta atenta e paciente de Jesus, o homem faz uma queixa importante. “Pedi a teus discípulos que o expulsem e eles não tiveram força para fazê-lo”, (v18b). Opa! Fica evidente aqui o mestre da escuta. E se apresenta a pedagogia da escuta de Jesus.
            O Jesus perguntador e escutador revela-se também indignado. Capaz de indignar-se. Repreende duramente seus discípulos por sua incapacidade e fraqueza. “Geração incrédula, até quanto estarei junto de vós? Até quando terei de suportar-vos?”, (v 19b). É significativo perceber que Jesus não se revolta com seus discípulos apenas, mas se dirige a toda a geração. Sua reação parece revelar uma pedagogia da indignação. Dar até para imaginar a sua expressão ao pronunciar estas palavras. Até quando vão depender de mim? E em seguida ordena. “Trazei-mo”, (v 19b). O próximo passo parece revelar a autoridade de Jesus. “Mal viu Jesus, o espírito pôs-se a agitar o rapaz com convulsões; este, caindo no chão, rolava, espumando”, (v 20). Novamente Jesus recorre à pergunta para continuar sua ação. Marcos nos mostra um Jesus interessado, compadecido e querendo saber os mínimos detalhes. Cheio de compaixão. Assim nos diz Marcos. “Jesus pergunta ao pai: Faz quanto tempo que isto lhe acontece? Ele disse: desde a infância”, (v21). E, como quem sabe que será ouvido, o pai descreve detalhadamente o histórico do filho. “Muitas vezes o espírito o tem jogado no fogo ou na água para fazê-lo perecer”, (v 22a). E faz uma declaração em forma de pedido mais que contundente para Jesus. “Mas, se podes alguma coisa, vem em nosso socorro, compadecido de nós”, (v 22b). O Jesus apresentado por Marcos se mostra um pedagogo por excelência. Aproveita a situação e as informações adquiridas no diálogo estabelecido, para somar às suas perguntas, as suas escutas, a sua compaixão, o seu poder dialogal. E responde com autoridade. Aproveita a ocasião criada para mostrar o poder de Deus, a força da fé e os conflitos que cercam a opção pelos que sofrem. “Se podes!... Tudo é possível para quem crer”, (v 23). Diálogo que fica concretizado na resposta humilde e quase contraditória do pai do menino. “Eu creio! Vem em auxílio da minha falta de fé!”, (v 24). Uma pergunta nos vem imediatamente. Qual a diferença para Marcos entre crer e ter fé?
            Só agora, depois das perguntas, da escuta, do diálogo estabelecido, da relação construída e de ter entrado na história e na vida do pai que lhe pedia ajuda, Jesus, como que dizendo, nós fizemos isto, dar o desfecho desejado ao caso. Assim nos diz Marcos. “Jesus, vendo a multidão agrupar-se em tumulto, ameaçou o espírito impuro: Espírito surdo e mudo, eu ordeno, sai deste rapaz e não entres mais nele!”, (v 25). As palavras parecem carregadas de indignação e compaixão. É relevante constatar que a ordem é sair e nunca mais voltar. Nunca mais entrar. A riqueza de detalhes de Marcos no texto é impressionante. Vejamos esta descrição. “O espírito saiu com gritos e violentas convulsões. O rapaz ficou feito morto, tanto que todos diziam: Ele morreu”, (v 26). Aqui, se dar algo próprio do Jesus-Deus-Homem. Na próxima ação, se revela mais uma pedagogia de Jesus. A pedagogia da acolhida soma-se à pedagogia do cuidado e da compaixão e são levadas ao máximo. Vejamos esse Jesus humano e companheiro que somente Marcos nos apresenta. “Mas Jesus, tomando-lhe a mão, o fez levantar-se e ele se pôs de pé”, (v 27). Pegar na mão, tocar, ajudar alguém a se levantar quando está caído, eis o sentido de ser cristão. Mais que dar algo ou alguma coisa é dar-se ao outro. O texto aqui estudado termina com outra característica também comum em Jesus, na relação e na pedagogia que Ele usava para com seus discípulos. Os colóquios com os discípulos. Assim apresenta-nos Marcos este momento. “Quando Jesus voltou para casa, seus discípulos perguntaram-lhe em particular: E nós, por que não conseguimos expulsar este espírito? Ele lhes disse: Esta espécie de espírito, nada pode fazer sair, a não ser a oração”, (v 28-29). De novo, uma pergunta não quer calar. Os discípulos não rezavam? Não rezaram neste caso? Por isso é que não conseguiram expulsar aquele espírito? Ou ainda, o que é oração, para Jesus? Que relação tem essa frase de Jesus com aquela onde Ele diz: Geração incrédula? Eles não rezavam, ou não tinham fé quando rezavam? Os discípulos são para Marcos, os beneficiários de um ensinamento particular, são testemunhas privilegiadas dos milagres maravilhosos que Jesus operou. Mas, como parece querer nos mostrar Marcos, são fracos e fraquejam, na fé e na ação. Na libertação dos que sofrem. Chama-nos a atenção que, no versículo 22a, Marcos usa os elementos fogo e água como sinais de morte.

Perguntas para atualizar o texto:
1 – A exemplo de Jesus, a igreja escuta o clamor dos que sofrem e são atormentados e perseguidos? Ou, ao contrário, a exemplo dos Discípulos, como igreja, nos mostramos incapazes?
2 – Como igreja seguidora de Jesus, continuadora de sua missão, nós costumamos acolher e pegar na mão dos caídos e ajudá-los a se levantarem?     
3 – A igreja sabe ouvir e dialogar diante dos conflitos e das necessidades dos fiéis que a ela recorrem? Se sim, como se dar este diálogo? Se não, por quê?

Curitiba, 08 de Setembro de 2011.
João Ferreira Santiago.
Teólogo, Poeta e Militante.
Mestrando em Teologia pela PUCPR.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Recid Ceará participa e colabora com o Grito dos Excluídos, Seminário em defesa da Vida O Meio Ambiente grita em dores, pobreza, lixo, queimadas, agrotóxicos...


O debate em torno em torno de uma consciência ambiental preenche o cenário mundial já alguns anos. Nesses últimos tempos o planeta terra geme em dilacerantes dores. A Campanha da Fraternidade 2011, ecumênica, desenvolvida em face dos constantes fenômenos naturais ocorridos pelo mundo, muitos, segundo alguns ambientalistas, decorrentes do denominado aquecimento global resultante em tsunamis, terremotos, maremotos etc., os quais têm deixado o mundo perplexo e preocupado.
                Os gritos saídos da terra apontam as dores sofridas pela criação: são rios d venenos derramados no chão, que contamina os alimentos, a água e são consumidos pela população. Cada brasileiro consome em média 5.2 litros de agrotóxicos por ano.
                As queimadas – comuns no nosso sertão, poluem o ar, degradam a terra e a torna improdutiva, infecunda. Estas queimadas têm reduzido o espaço para plantio na terra que é concentrada nas mãos de poucos.
                O lixo produzido é o resultado de uma sociedade do consumismo, da falta de cuidados os poderes públicos com o maio ambiente e com as pessoas.
                Na Região Centro Sul do Estado do Ceará está clara a ausência de uma política de saneamento e adequado tratamento de resíduos sólidos, o que temos tristemente observado em quase toda a totalidade de municípios é a presença de “lixões a céu aberto”, locais inadequados para o depósito destes mencionados resíduos, somando-se ainda problemas como queimadas, desmatamento e uso abusivo de agrotóxicos, todos fatores degradantes da natureza (Pe. Manfredo de Oliveira – Diácono da Pobreza – Doutor em Filosofia e Professor da UFC).
 Diocese de Iguatu, através de sua Comissão de Justiça e Paz, conjuntamente com instituições e sociedade civil organizada, sensibilizada e ciente de sua missão, a partir de uma constatação da triste realidade do descaso ás questões ambientais, sentiram a necessidade de realizar um seminário, com estudos da realidade socioeconômica – diagnóstico da pobreza – não podendo esta ser dissociada dos aspectos ambientais mais gritantes.
Espera-se que este seminário se constitua em instrumento eficaz para a discussão em vista, sobretudo, da prevenção de possíveis danos ambientais, além de despertar urgentemente uma consciência ambiental para resolução dos problemas apontados, buscando sempre assegurar para as gerações, no presente e no futuro, um meio ambiente ecologicamente equilibrado, direito fundamental a resguardar a dignidade da pessoa humana. (Diocese do Iguatu)

O Seminário configurou-se num forte momento onde os movimentos, militantes e pastorais ecoaram seus gritos e lamentos por toda a região Centro Sul do Estado do Ceará.